quarta-feira, 23 de abril de 2008

... e nestas águas profundas eu desço , aos poucos, afundando suavemente... sinto o toque da gravidade em sua manisfestação mais sutil, suave... e desço. meus ouvidos rendidos pela pressão da água e o silêncio profundo...meus olhos que antes ficavam fechados hoje estão abertos, não ardem como um dia imaginei. tento enxergar mais longe, então, e agora começo 'a enxergar pequenos seres, além da água azul escuro que começa um pouco a clarear. poderia nadar mas não quero, quero continuar descendo lentamente, aproveitar o silêncio, sem o tic-tac das horas ou o ranger dos teclados e a luz das telas e o barulho dos carros...quero conhecer este novo reino que se abre, que sempre esteve ali, cantando, chamando...até que me desespero quando ao longe percebo a mancha negra se aproximando, gigante, carne do ser enorme que ali habita e tem garras, sua boca aberta chegando e seus olhos negros em minha direção. congelo. tudo pára. o frio na espinha se intensifica e continuo olhando em seus olhos...ele pára...e me olha , me encara...segundos se passam, olhos nos olhos fixos, um no outro, e daí vai embora. as aguas começam a clarear novamente e percebo que estou no raso, perto do sol; vejo figuras humanas além da água, ou podem ser seres quaisquer, e não tenho mais medo...

Um comentário:

Lembamuxi disse...

que bonito ler isso aqui, porque me é um lugar habitado. já estive aqui. escrevi também um texto de afundar nas águas: vou colocar os dois no blog, para que leia. (minha língua hoje está afiada, prática, cheia de rapidez. nem consigo dizer o quanto me senti feliz por reconhecer um habitante do fundo das águas)


não sei se sou exatamente um habitante da noite: mas sei que moro no fundo das águas, onde as coisas se arrastam, e o tempo é como óleo porque também o tempo é um lago de águas paradas.

estou colocando lá agora.