segunda-feira, 25 de maio de 2009

sutil, me rasga o peito
o que é leve é o que calmamente me abusa
o silêncio com um dedo pontudo entre as falas
o sorriso afiado corta meu rosto
o que é opressor é quieto
com seus largos quadris me joga pra fora
não consigo diálogo pois minha mandíbula trava, tensa
fico surpreso com minha insensatez
em não perceber que uma massa escura estagnada e ritmada
passa e me envolve
sim ela envolve
pegajosa
e é com olhos doces
e sua constante melodia
que vai me amarrando
sufocando
estancando meu sangue que ela não quer que corra
já me encontro marcado
se ela me deixa
já não sei o que fazer com o ar que entra
basta olhar meus pulsos
com a pele marcada
pra provar que ela existe
basta que se puxe um fio do tecido finamente trançado

domingo, 24 de maio de 2009

dentro vira cacto gigante
pequenas pontadas
um gancho
me pega pela nuca
levanta meus pés deseperados por chão
massa mal digerida que provoca lágrima
e uma pressão na boca contida
algo segurou minha cabeça contra a parede
e me olhou nos olhos friamente
um pé inteiro na engrenagem e ela quase estoura
não há graça
na partitura rabiscada com força

domingo, 17 de maio de 2009

Sou só porque abandono
ou nada seria
deixo oco pois quero a corrente
e as várias vertentes
continuamente deixar de ser
e possibilitar
fazer andar
tornar-me lacuna
nada que esteja completo
ser o não teto
deixar as estrelas entrar
iluminar
um pedaço de papel em branco
deixar rabiscar
infinitas combinações
cores de giz de cera
um por cima do outro
não completar
e com a voracidade de um tubarão
deixar que algo falte no mar
fazer a água turbilhar
incessantemente tentar se encher novamente
e formar o próximo vácuo
soprar
infinitamente