segunda-feira, 19 de maio de 2008

…to roendo as unhas, afiando os dentes, chegando perto da carne dos dedos, vermelha,
pra esta noite entre livros, o jazz e o blues, observar
quem de longe vem, pra me encontrar, na sintonia fina,
unidos mente em mente pelas maos de genios russos e sons de Nina,
vindos atraves dos tempos pelas varias vidas, das dores de Werther
e dos risos de Allen, na ansiedade da incerteza e a conviccao de um novo elo,
nem que sejam somente palavras trocadas entre o cheiro do café …

sexta-feira, 16 de maio de 2008

eu no espelho

...no reflexo do espelho um rosto,
rosto meu-dele, olhos nos olhos,
um, dois, mil minutos, a pele branca minha-dele,
mexo a boca minha-dele, pareço e identifico e desconheço
pego uma foto minha-dele e me vejo eu nele, meu cabelo-dele,
tento comparar ao reflexo e achar algum caminho, respostas,
dou um sorriso e ele também,
desvio o olhar e olho as mãos minhas-dele, mexo meus dedos dele,
as rachaduras me parecem familiares, os calos meus são dele,
daí como artista faço caras e bocas minhas-dele, estrepulias e acrobacias minhas-dele, corpo desnudo meu-dele e eu quero sentir só em mim,
afundo a minha cara no espelho, o olhar de mau meu-dele e tento me achar ali, mas ele-eu sempre ali,
me belisco ele, choro eu com ele, aperto cada vez mais pra tentar me conhecer, dor só minha e não dele
falo e minha voz sai dele ...chego mais perto e olho espantado, porque se me gravo é ele, se me mexo é ele, se sorrio sou ele!
eu sou ele...

quinta-feira, 15 de maio de 2008

...mãe...


Na distância percorrida, o calor do útero distante da tempestade,
ligado por finos cordões que saem do peito ao peito, efêmera ligação,
resistente ao vento que sopra e ao fogo que queima
Eterna osmose cor-de-rosa, e a vontade do choro,
acalentado pelo leite que sustenta, e as vozes do tempo curto,
onde a infância se funde com o agora e me vejo nú de novo,
e nada foi e nem será, quando a boca que sente o peito fere a alma,
mantem-se aberta e calada, tentando dizer o que não se pronuncia
mas se expressa pelos olhos, mãe e filho,
na epopéia, de mares e ventos, desertos vermelhos e cavalos velozes,
dentre as vozes que aliciam e as músicas que encantam,
rodopio ativamente e tudo vejo ao mesmo tempo,
pertenço à tudo e à nada.
e quando me perco , peito aberto sem proteção,
rastejo instintivamente, bicho filhote, e me acalento com seu cheiro complacente,
cheiro de mãe, o sorriso de minha infância e minha vida,
e me aconchego em seu colo, olhando pra cima e esperando o toque suave de um beijo doce de boa noite.

terça-feira, 13 de maio de 2008

eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro eu corro

quarta-feira, 7 de maio de 2008


...dentro da area escura, sem lados nem fins, eterna pra todos os lados, destaca-se o bolo cor-de-rosa, enfeitado com arranjos brancos feitos de açúcar e pequenos cristais, pequenas rosas de marzipan e bonecos de todas as cores espetados na massa coberta de neve, estado de eterna harmonia, sustentado pela sutil relação entre os dois. estáticas, todas as bocas riem e todas as mãos acenam, os olhos estatelados e opacos, limitados ao contorno mais externo do bolo, sem enxergar o escuro, porem evitando-se o menor movimento, pressentindo sua presença, observando de rabo de olho, evitando-se assim que se quebre algo que nao se conhece, que sustenta o bolo no centro de tudo, evitando que seja sugado, despedaçado ou simplesmente deixe de existir. acendem-se as velas. um a um, todos os componentes da cena vao sendo iluminados pela luz amarela, acolhedora, agora o centro das atencoes, o que torna tudo mais atraente. a luz irradia e tenta penetrar o escuro mas dilue-se, no entanto possibilita vislumbrar algo maior que esta la', em movimento, junto`a penumbra. existe algo la' fora! paira no ar antes estatico algo maior, uma nova possibilidade, certa agitacao, e as cores se misturam, os cristais brilham mais. a luz das velas agora reflete nos olhares e algo parece ter mudado em seus rostos, pode-se ate' arriscar ter algo vivo ali, bonecos que agora podem ver alem da borda do bolo, mesmo que seja somente por um instante, ate que se sinta o vento que vem do escuro, morno, derradeiro, e que pouco a pouco as velas se apaguem, e a luz incandecente va' se extinguindo, em pavio vermelho, delineando os vultos que outrora se iluminaram...

segunda-feira, 5 de maio de 2008




...from underneath white walls came the colors once covered by me,
green and yellow and purple colors of my memories, past lives within this life,
burdens under my skin that struggle and urge to rebirth,
through the graceful hidden smile and the burnt soul, flame,
warmed and smoothed human skin overwhelming my thoughts,
and a whispered voice reaching deep inside of me,
pacing the neverending explosion which is about to be,
then I freeze...stare. walls structures were and will still be, turn my head back and I see,
enlightened, paintings in my wall, now that light is back again...

quinta-feira, 1 de maio de 2008

à tarde em casa

hoje não liguei pra ninguém,
não lembrei de ninguém,
sismei com meus quadros,
levantei, comi e dormi,
olhei para fora, vi as pessoas por cima,
mas não liguei pra ninguém
minha janela é grande,
me permite ver longe, o céu inclusive,
mas me limitei a ver as pessoas na rua, por cima
evito contato, olhar me parece seguro,
tenho falta de ar, talvez por excessos
gosto da minha sala grande, paredes brancas, pé direito alto,
minha árvore que parece ter movimento
fico bem no meio e o vazio me parece tudo
vazio por opção, não por falta, por limpeza e não pela falta.
minimalista;
e mais um copo na cozinha, mais um prato na cozinha, mais de tudo na cozinha
tomo um banho quente, água quente na nuca, em pé na minha banheira que é retrô
e quando sento no sofá, quieto, tudo preencho. e de repente tudo é uma extensão de mim, a sala é uma extensão de mim, o corredor extensão de mim, o quarto extensão de mim, a cozinha é uma extensão de mim,
e aí já posso assistir meu filme...

...os olhos,
que tudo vêem,
porta da alma e seu brilho reluzente,
fixos, resgatam a outra alma que no outro corpo encontrasse encarcerada,
'a espera da luz que te traz de volta 'a vida,
em meio ao caos perfeito de nossas vidas,
barulho vivo e pungente, pulsante,
e palavras se tornam ineficientes,
no meio do barulho ensurdecedor,
e os olhos se encontram, e o silêncio se faz,
e tudo vira música...